terça-feira, 9 de novembro de 2010

De volta à sapatilha


Por Marjorie Ribeiro


Cresce a procura pelo balé entre mulheres de 25 e 60 anos, que decidem superar a frustração de ter parado ou que começam do zero.


Karina Candido arriscou os primeiros pliês e demi-pliês com apenas três anos de idade. A dança fez parte de toda sua infância e adolescência, mas quando as obrigações da vida adulta surgiram, ela teve que deixar a atividade de lado. "Não tinha como levar tudo, o balé clássico exige disciplina e uma periodicidade certinha", explica. Mas depois de dois anos parada, a jornalista de 26 anos resolveu encarar as sapatilhas novamente.

Recém-casada e com pouco tempo disponível, o treino de 16 horas semanais foi reduzido a uma hora e meia. O retorno é difícil, "você fica enferrujada, perde o condicionamento físico e a elasticidade, parece que a idade começa a pesar", mas a paixão pela dança foi maior. Hoje em dia, toda quarta-feira ela ensaia as seqüências de ponta no Clube Atlético Aramaçan, em Santo André.

Assim como Karina, muitas mulheres optam por voltar ao collant, saia e meia-calça, depois de adultas. Com o aumento da procura na faixa etária de 25 a 40 anos, muitas escolas passaram a dedicar turmas especiais para esse público. É o caso da tradicional Espaço Movimento, no bairro de Pinheiro, em São Paulo.

A bailarina e proprietária do local, Rosanna Giuzio, conta que a maioria das alunas treinaram durante a infância, mas há também muitas que começam do zero e que escolhem a dança, principalmente, por não gostarem do ritmo da academia. As aulas são direcionadas a um aprendizado mais rápido, já que as adultas não têm o mesmo tempo de dedicação disponível das crianças. "Quando se começa depois dos 18, 19 anos sua estrutura física não permite mais ser um profissional, mas dança pelo prazer mesmo", explica.


Sem restrições

Não é necessário ser magra, ter o biótipo das bailarinas, alto condicionamento físico ou flexibilidade. O balé clássico pode sim ser praticado por qualquer pessoa, independente da idade. Prova disso são as turmas voltadas exclusivamente a idoso, que na maioria das vezes, colocam a sapatilha pela primeira vez.

"Mesmo com a idade avançada, elas conseguem desenvolver muito bem os passos e tem uma ótima expressão corporal, trazida pela rica experiência de vida. O resultado é impressionante!", afirma Ângela Delfino, professora de balé clássico para mulheres acima de 60 anos, na Espaço Movimento.

Com aulas particulares, o método de ensino também é diferenciado. Não há saltos, o treino de alongamento é mais leve e o foco é corrigir a postura e outros vícios corporais. Segundo Ângela, as alunas costumam apresentar grande melhoria não só no correto posicionamento da coluna, mas também na respiração e diminuição de dores, que normalmente começam a aparecer nessa idade.


Saúde para corpo e mente

Para as mais jovens, a lista de benefícios para a saúde e bem-estar é ainda maior: postura, alongamento, flexibilidade, condicionamento físico, resistência abdominal, aumento da capacidade cardio-respiratória, força, equilíbrio, concentração, relaxamento e alívio do estresse.

Mesmo com tantas vantagens, muitas mulheres ainda têm receio de voltar, por acreditar que já passaram da idade. "Mas a maior dificuldade é a que elas embutem nelas mesmas, de só olhar os passos e achar que não conseguem", ressalta Rosanna.

Karina concorda. "Você fica abatida porque a perna não sobe mais, que a abertura não é mais a mesma, mas não pode se limitar a isso. Se você gosta mesmo, tem que batalhar e voltar, porque é muito prazeroso". No fim do ano, ela relembra os velhos tempos e volta às apresentações, mostrando que quem um dia ficou na ponta do pé para sempre poderá ficar.

http://www.guiadasemana.com.br/Rio_de_Janeiro/Mulher/Noticia/De_volta_a_sapatilha.aspx?ID=68311

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